Chocante e necessário

O Fantástico de hoje mostrou uma matéria absolutamente revoltante. Uma mãe, no interior do Pará, "vende" a sua filha de 17 anos para fazer programa com um homem em troca de quatro cervejas. Mas se este homem - um produtor que se passou por cliente - quisesse levar a menina embora com ele, era só pagar R$ 500.

Parece algo absurdo, mas é muito mais comum do que se imagina. O meu trabalho me possibilitou conhecer essa realidade muito de perto. Meninas que fazem sexo com homens em troca de um banho quente, de dormir numa cama de hotel ou simplesmente porque sonham em comer uma bolacha recheada. Acontece em todo o Brasil, muitas vezes com o consentimento da família. Pior, muitas vezes a sociedade condena as meninas, com aquele discurso nojento de que "a menina se veste assim pra provocar o homem, que acaba não resistindo, afinal ninguém é de ferro..."

Quando estudante, realizei uma matéria que foi a principal de um jornal que tínhamos na faculdade. Era uma reportagem sobre exploração sexual infantil. O que mais me tocou foi a entrevista que fiz com uma menina que foi vítima de abuso sexual pelo padrasto desde que ela era criança. Ela engravidou e tão logo deu a luz ao filho que esperava, entregou para a sua mãe, que havia a condenado por tudo que havia acontecido, e foi embora de casa. Ela cresceu, trabalha e parece ter superado aquela situação. Mas eu percebia em cada palavra, em cada olhar e gesto dela enquanto conversávamos, que a função do jornalista é dar voz a essas pessoas invisíveis, é tornar dramas humanos em notícia, é revelar essas coisas absurdas que acontecem para sensibilizar a sociedade e as autoridades.

Por isso acho válida essa matéria do Fantástico. Para causar revolta, ódio e para impedir que esse crime tão brutal e hediondo se naturalize. Não podemos jamais perder a capacidade de nos indignar com essa barbaridade que é a exploração sexual de crianças e adolescentes.

Falei!

Assista a matéria: http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1046820-7823-MAES+NEGOCIAM+FILHAS+NO+PARA,00.html