quarta-feira, 27 de outubro de 2010

O dia que Caruaru parou



Trabalhar na cobertura dessa eleição presidencial está sendo uma das experiências mais emocionantes da minha vida. Em primeiro lugar porque estou exercendo plenamente a minha profissão de jornalista. Mas não é só isso. Como militante político desde que me entendo por gente, trabalho também com o coração, com a emoção, com a motivação de quem acredita no que defende. E o dia 26 de outubro de 2010 certamente significa um marco nessa trajetória.


Caruaru fica a 140km de Recife, no agreste pernambucano. Eu não conhecia nem a Capital, quem dirá o interior do estado natal do presidente Lula. Ao chegar na cidade, já me deparei com ruas, carros e pessoas ansiosas à espera da próxima presidente do Brasil, Dilma Rousseff. Fui até o aeroporto, onde estava prevista a chegada da candidata. Ainda faltava duas horas, mas já havia centenas de pessoas debaixo de um sol típicamente nordestino. Era gente simples, comum que estava ali de forma militante. Conversei com alguns e percebi a emoção que os movia.


A hora de Dilma chegar ía se aproximando e mais pessoas chegavam. Repentistas, sanfoneiros e dançarinos de frevo tipicamente vestidos faziam um verdadeiro show em frente ao aeroporto. Os animadores do carro de som agitavam o povo, que à essa altura já era de milhares.


Dilma chegou. Foi cercada por parlamentares, lideranças, artistas, jornalistas, povo... Ela teve dificuldade para andar cerca de três metros que separavam a porta do terminal do carro aberto que a conduziria pela cidade. Quando ela subiu, nós da equipe e da imprensa imediatamente subimos no caminhão da frente. Era um caminhão mesmo, aberto, com umas 40 pessoas se equilibrando no meio de câmeras, máquinas fotográficas e notebooks. Dali saiu a carreata que percorreu 12km da cidade em duas horas. Eu nunca havia visto nada igual!


Pessoas corriam ao lado do carro. Pessoas - e muitas delas - saíam das suas casas emocionadas para acenar para a candidata. Era gente pendurada no alto dos prédios, em obras, barrancos, em cima de árvores, nas portas e janelas das casas, no comércio, dentro de carros e ônibus acenando com emoção. A leitura labial me permitiu entender o que uma senhora muito humilde falou na porta da sua casa: "obrigada meu Deus! É Dilma passando em frente à minha casa."


Pode parecer um pouco exagerado, mas não é. É pouco. É indescritível. Perguntei a uma jornalista que estava ao meu lado no caminhão - um apoiado no outro para se equilibrar aos solavancos das ruas - se era sempre assim. Ela respondeu que não, que aquilo era uma manifestação inédita. É que na verdade o ineditismo está na forma como o nordeste brasileiro passou a ser tratado pelo presidente retirante nordestino. Eu, que sou um sulista, cresci ouvindo que o nordeste era a periferia do Brasil, dominado pela pobreza e por coronéis políticos. Era. O governo do presidente Lula mudou a realidade daquela região, levando não só políticas transformadoras, mas acima de tudo a dignidade para a população. E como é bom ver a gratidão que eles têm. Ali não havia espaço para os ataques e para a baixaria da campanha eleitoral. Só havia espaço para a gratidão e a esperança, sentimentos voluntários que só se manifestam no coração de pessoas muito sábias.


A carreata chegou ao centro da cidade. A cena me lembrou o carnaval de rua de Salvador, quando as lojas param, não passam carros nas ruas - só trios elétricos - e milhões de pessoas tomas as ruas, calçadas e o espaço que conseguirem. Em Caruaru não eram milhões, mas milhares. Ficou impossível do carro em que Dilma estava andar no meio daquele verdadeiro mar de gente. Ela pegou o microfone e disse emocionada: "o coração do Brasil hoje bate em Caruaru!" Batia mesmo, não tinha como não sentir aquela pulsação vibrante.


Saí de Caruaru emocionado e cheio de certeza de quem governará o Brasil a partir de 1º de janeiro do ano que vem. Mas além disso, saí de Caruaru com a certeza que vivi um dos dias mais especiais desses meus 27 anos de vida, o dia que Caruaru parou.


Viva o povo brasileiro!


Falei!