quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

De braços abertos


Criei esse blog para publicar coisas que eu escrevo sobre tudo. Quem me conhece sabe que eu sou assim mesmo, tenho opinião sobre tudo. Mas gosto também de publicar aqui coisas que leio por aí e que me agradam, de autores famosos ou anônimos.

O texto a seguir é de autoria da Martha Medeiros, que por sinal escreve muitos textos que eu adoro. Esse foi publicado na Zero Hora de hoje e eu concordo com cada vírgula. Por sinal, para ilustrá-lo, combina muito uma foto minha tirada nessas férias em Morro de São Paulo, um pedacinho de paraíso lá na Bahia.

Boa leitura!

Falei!

De braços abertos
Martha Medeiros




Eu não costumava prestar atenção nessas coisas, mas certa vez caiu no meu colo uma dessas reportagens que falam sobre nossa linguagem corporal, e me dei conta de que eu andava mandando um recado muito malcriado para as pessoas com quem eu me relacionava: tinha mania de conversar com os braços cruzados. O problema disso? Segundo os entendidos, todos. Quem cruza os braços demonstra uma certa resistência em se entregar, não está querendo que invadam seus domínios, assinala que não quer muita aproximação. Dependendo do caso, até que os braços cruzados servem mesmo como um bom escudo, mantém cada um no seu quadrado, mas pô, na maioria das vezes, minha alma, silenciosamente, abraçava a pessoa querida com quem eu conversava, por que nem assim eu desamarrava os braços?

Hábito. Um mau hábito. Hoje estou atenta à linguagem corporal e mantenho os braços soltos, e se me descuido sou até capaz de conversar apoiando minha mão no ombro da pessoa, feito uma comadre abusada. Não tenho mais o corpo fechado, estou desprotegida para o que der e vier. Toda essa introdução pra dizer que, mesmo me esforçando para abraçar a vida, ainda tenho um longo caminho a percorrer até chegar à exaltação carnavalesca de Kiki Joachin, o menino de sete anos que foi resgatado dos escombros do Haiti semana passada e que foi responsável pela cena mais doce dessa tragédia infame. Kiki, morrendo de fome, morrendo de sede, morrendo de medo, morrendo de dor – morrendo –, não esperou nem meio segundo para, fora do buraco, esticar seus braços feito um mestre-sala na avenida, feito um artilheiro que fez seu gol mil, feito o azarão de todas as apostas que conseguiu vencer o campeonato. Driblou todos os prognósticos, viveu. E comemorou imitando o Cristo Redentor, só que com muito mais alegria – santos fazem milagres, mas jamais sorriem, não entendo por quê.

Então, em homenagem ao Kiki, que a gente nunca mais cruze os braços pra nada, a exemplo também de outro menino de sete anos, dessa vez o britânico Charlie Simpson, que se propôs pedalar sua bike por oito quilômetros em volta de um parque para conseguir doações para o Haiti. O tiquinho de gente arrecadou 132 mil libras, cerca de R$ 390 mil.

Descruzando os braços, a gente se desarma e participa mais da sociedade. Se aproveitarem nossa vulnerabilidade para nos atingirem, a covardia será dos outros, não nossa.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Merda


Esse texto foi copiado pela Lu do site do Nei Lisboa, o que atesta sua autenticidade e autoria. Mais uma vez, ele foi genial.

Eu havia pensado em escrever sobre isso, mas na correria de final do ano acabei não conseguindo. Agora recebo esse posicionamento que traduz o que eu gostaria de dizer. Por isso, permitam-me, com muita humildade, subscrever Nei Lisboa.

Falei!

MERDA
Nei Lisboa

Então, o Presidente falou “merda” – e nada de mais aconteceu, a República não caiu. Houve, é claro, quem tentasse se escandalizar e quem rosnasse sobre a liturgia do cargo mas, cá entre nós: estes sempre acharam que o Lula fala merda. Se não há novidade, não devem estar chocados. Também nenhum jornal deixou de publicar a palavra por extenso, ao dar a notícia. Só faltou estamparem numa manchete, e pena que não aconteceu.

Merda é muito mais legal que bunda, que já deixou de ser palavrão há muito tempo. Serve pra quase todo instante, que sempre tem alguma acontecendo por aí. Sem falar da que se pisa na calçada, ou daquela pra onde se manda outrem. E serve ainda pra saudar quem sobe ao palco, como se sabe, naquela tradição do teatro. Eu mesmo sou superticioso com isso, não gosto que desejem boa sorte, e sim merda, antes de um show.

Pelo sim, pelo não, a palavra do Lula ilustra bem o momento especial que atravessamos, neste alvorecer dos anos 10 (ainda que a década, de fato, só inicie em 2011).

O Brasil faz sua estréia como ator respeitável e respeitado nos fóruns de decisão mundial – o que justificaria seu uso como voto de sucesso. De outro lado, ao lembrar que o povo brasileiro ainda chafurda na merda, o próprio Lula expôs os limites dessa celebração de um novo e pujante país. Enquanto houver uma enorme fatia da população sem as necessidades básicas atendidas, seguiremos mais afogados do que emergentes.

Mas é o uso da merda como imprecação o mais representativo ainda do passado recente. Nunca antes neste país (e em quase toda América do Sul), as elites se viram tão incomodadas. Verdade que não chega a ser grande mérito do governo Lula. É mais revelador do nada absoluto que os anteriores fizeram, e da intolerância aristocrática de quem não admite perder seus anéis e preconceitos. Nenhum banqueiro está falido, nenhum empresário teve de ir embora do país, nenhum faisão deixou de chegar à mesa da corte. Mas o desconforto desta branca elite é visível todo o tempo, a cada vez que a imprensa amiga sustenta a posição rançosa de rejeitar e desfazer o que do Lula vier.

Assim, basta ligar a TV num noticiário qualquer – eu sugiro a Globonews – para se morrer de rir. O pessoal torce, torce mais que organizada do Flamengo, pra alguma coisa dar errada. Mas como, para além de boas intenções, o Lula nasceu com o fiofó virado pra lua, as notícias têm sido mais do que boas para o governo, mais do que ótimas, até beirando o inacreditável. E os âncoras e comentaristas viram e reviram, tentando apontar uma falhazinha aqui, reclamar de uma taxa de juros ali, mas não tem jeito. Fica a sensação de que, fora do ar, depois de se despedirem com um muxoxo de boa-noite, um olha para o outro e solta aquela frase desconsolada, e inevitável:

– Mas que merda!

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Posto 9


Hoje, 20 de janeiro, é dia de São Sebastião, padroeiro do Rio de Janeiro. Dia e ocasião mais do que apropriadas para eu acabar com as férias da escrita e voltar a alimentar o meu blog, algo que faço com tanto prazer e que estava com saudades. É o meu primeiro post de 2010.

Voltei a trabalhar após umas férias no Rio e em Morro de São Paulo, na Bahia. Mas é sobre o Rio que quero falar, por ser dia de São Sebastião, por ser uma cidade que amo, por eu estar com saudades e por ser um lugar tão marcante em minha vida. Mais especificamente, quero falar de um lugar muito peculiar no Rio, ali em Ipanema, o chamado Posto 9, ou, na linguagem dos cariocas, o Poiiiiiiiixxxxxxxto 9. Durante 20 dias, meu endereço foi: Posto 9, algum guarda-sol vermelho ou amarelo ao redor da bandeira do Uruguai (por mais que o Vicente tenha tentado sutilmente me transferir para a barraca da Denise).  Das 11h às 20h. Todos os dias, inclusive domingos e feriados! TODOS!

O Posto 9 é o ponto mais democrático da Cidade Maravilhosa. É ali, naquele pedaço de praia, naquela faixa de areia entre o calçadão e o mar que a liberdade tão sonhada é vivida. Liberdade para todas as formas de amor, de manifestação, de trajes e de cigarros. Se na Farme fica a tribo colorida, no coqueirão ficam os fãs de reggae. No meio do caminho tem um pouco de tudo, um pouco de todos. À oeste temos o Leblon e o Vidigal, ao sul o mar, ao leste o Arpoador e ao norte os luxuosos e tão sonhados apartamentos da Vieira Souto. Foi ali que o Vinícius e o Tom se encantaram por uma certa Garota de Ipanema e que o Caetano se apaixonou por um tal Menino do Rio.

Ali também é repleto de personagens. Tem o vendedor que assusta com seu grito de “AAAAAA BACAXI”, tem “O MELHOR” mousse do Rio de Janeiro, o “AÇAÊÊÊÊÊ”, o “CIGARÔ” e o “BISCOITO DA VOVÓ”, que todos outros chamam mesmo de “BISCOITO GROBO”, por mais que a grafia correta seja Globo mesmo. Tem ainda o famoso sanduíche uruguaio, o churipan da Dona Glória, a turma do futevôlei e uma infinidade de opções.

Mas além disso há, acima de tudo, pessoas. Muitos turistas, é verrade, mas também muitos cariocas que são um povo especial. Carioca não tem marra, tem estilo. E todos formam uma multidão de pessoas do bem, que cantam, que se reúnem ao redor de um violão, que se apaixonam, que namoram, que paqueram, que zoam, que curtem, que apreciam cada pôr-do-sol à esquerda do morro Dois Irmãos e aplaudem o astro Rei que foi o principal responsável por aquele dia de praia existir.

Se o Rio é a Cidade Maravilhosa, Ipanema  - e muito especialmente o Posto 9 – é a praia encantada, lugar da diversidade, da liberdade, da alegria, da amizade, do amor!

Eu amo o Rio! Eu amo Ipanema! Eu amo o Posto 9!

Falei!