quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Cada um com a sua versão

No jornalismo aprendemos a narrar um fato de forma que o nosso leitor receba a exata informação do que aconteceu, como, onde, quando e porque. Essa é a regra. Mas a vida real mostra situações em que a versão popular é muito mais interessante do que a jornalística. Ou pelo menos mais divertida.


Essa semana, uma farmácia perto da minha casa incendiou. O caso ganhou grandes proporções porque o estabelecimento funciona numa movimentada avenida, que ficou, inclusive, bloqueada na hora do ocorrido. Foi um caos, pois parou várias avenidas no final da tarde, hora de grande movimento. A fumaça e o cheiro tomaram conta do bairro. A imprensa toda cobriu o incêndio. Centenas de pessoas se aglomeravam para ver a ação dos bombeiros. No dia seguinte, havia fotos nos jornais, informando que a farmácia havia pegado fogo e que a causa seria investigada. Jornalisticamente, tudo certo. Mas o povo não se contenta com tão pouco.


É aí que entram em cena as versões populares. Já ouvi três que conseguiram tornar o acidente uma comédia.


A primeira versão foi de um comerciante, vizinho da farmácia. Segundo ele – que fez questão de contar sua história numa riqueza de detalhes de dar inveja aos novelistas – o negócio não ía muito bem. Tratava-se de uma filial relativamente nova, com uma concorrência grande. Nesse caso, segundo o comerciante, os proprietários teriam forjado o incêndio para receber o dinheiro do seguro e investir na outra filial, que fica do outro lado da rua. Nas palavras dele, “como é que pode alguém soldar alguma coisa em cima do estoque de fraldas descartáveis? Só pode ser armação!”


Mas o raciocínio do comerciante não para por aí. Como tramita no Congresso Nacional um projeto para liberar os bingos, ele tem certeza que naquele mesmo prédio, em breve deverá funcionar uma casa de jogos de azar, que será bem mais lucrativa que a farmácia.


No mesmo dia, um pouco após o acidente, uma amiga minha pegou um táxi bem perto do local. A primeira pergunta que o motorista fez foi se ela ficou sabendo do incêndio. A partir daí ele passou a relatar os problemas elétricos que teriam causado o fogo na loja.


Passados dois dias do acidente, ouvi mais uma versão. Eu caminhava bem próximo à farmácia, quando percebi que duas senhoras caminhavam na minha frente falando sobre o caso. Não resisti e resolvi acompanhar a conversa. Segundo a senhora mais entendida no assunto, o negócio foi vingança de mulher traída. O adúltero seria o dono da farmácia.


Cada um com uma história. Cada um com uma versão.


Falei!

2 comentários:

  1. Adorei!
    muito boa...
    bjus, Mima

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  2. Realmente! O fato é. A versão está... e, neste caso, está para diversão e eu me diverti com esse relato. Beijos, Soninha

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