quarta-feira, 3 de março de 2010

A Redenção pede socorro


A briga de gangues que transformou o parque da Redenção em cenário de guerra no último domingo abriu um debate sobre a segurança do local. O tiroteio e a morte de um adolescente num dia de grande movimento do parque mais tradicional de Porto Alegre deixou a população desconfiada. Na verdade, esse episódio escancarou uma situação que já é percebida há tempo por quem frequenta ou passa por ali com frequência: a Redenção pede socorro!

Tenho o privilégio de morar ao lado da Redenção. Mais privilegiado ainda sou de trabalhar do outro lado do parque, o que me faz atravessá-lo no mínimo duas vezes por dia. Se não bastasse isso, normalmente vou até lá nos finais de semana. Para mim – assim como para boa parte dos moradores do Bom Fim, Santana e Cidade Baixa – a Redenção é o quintal de casa.

Mas se de um lado isso é um privilégio, de outro me faz perceber algo que os freqüentadores de fim de semana não percebem. Em primeiro lugar é preciso falar do relaxamento das pessoas. Toda segunda-feira de manhã o chão está coberto de lixo. Preservativos usados são encontrados diariamente. Muitas vezes a grama vira mato e galhos de árvores quebram e ficam caídos. O Auditório Araujo Vianna está transformado numa ruína que só serve para abrigar moradores de rua e vendedores de drogas.

Durante o dia, encontramos pessoas que fazem exercícios, os estudantes do Colégio Militar nas suas aulas de educação física, os aposentados jogando bocha e carta, amigos se encontrando, casais namorando... Quando o sol se põe, a Redenção vira uma mancha escura na cidade, palco de assaltos, de relações sexuais ao ar livre e do uso de todo tipo de drogas.

Não sou daqueles que acha que o parque deve ser cercado. Muito pelo contrário. Acho que essa liberdade de se poder entrar e sair da Redenção por qualquer lado é uma das principais virtudes desse nosso cartão postal. Mas é preciso uma mudança de atitude urgente. Em primeiro lugar, das pessoas. Lixo é no lixo. Se não tem lixeiras suficientes, guarda e leva pra casa. Com as camisinhas (e que bom que usam), a mesma coisa. Fezes de cachorro nem se fala.

Agora com o poder público, a conversa tem que ser mais séria. Por mais que a prefeitura tenha concedido uma parte do parque para a Pepsi cuidar, assumindo sua incompetência enquanto gestora da cidade, algumas atitudes precisam ser tomadas. A grama precisa ser cortada com freqüência e as árvores podadas. Mais lixeiras precisam ser colocadas, assim como postes de iluminação. “Mas os vândalos quebram”, já ouvi várias vezes. Então que se enfrente os vândalos, com mais policiamento, câmeras de segurança e, acima de tudo, atitude. Não dá pra se conformar e achar que não tem como resolver.

Daí eu vejo o prefeito todo orgulhoso que instalou rede wireless na Redenção. Mas qual é a criatura em sã consciência que vai abrir um laptop em pleno parque, nessa situação de abandono e insegurança? Não adianta pensar em inovar quando não se faz o básico. Tem que limpar, cuidar, iluminar e proteger. Senão, vamos perder a Redenção para o crime, para a violência e para a marginalidade, e o nosso parque – símbolo da cidade – pode se transformar em símbolo maior do descaso e do desprezo com a coisa pública.

Vamos salvar a Redenção!

Falei!

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