A cidade de Porto Alegre já foi conhecida em todo o mundo por diversas qualidades. Éramos a Capital da participação popular e do Fórum Social Mundial. Éramos! Hoje somos uma cidade com trânsito caótico, ruas escuras, sujas, índices altíssimos de violência, praças e parques tomados pelo mato. Sim, nos tornamos a Capital do abandono.
Mas uma outra grande qualidade que essa saudosa Porto Alegre tinha era a vida cultural. Éramos a Capital da descentralização da cultura, do Porto Alegre em Cena, de espaços culturais valorizados e pertencentes à comunidade. Isso também mudou.
Hoje, qualquer grande show, peça ou evento cultural realizado na cidade, com raríssimas exceções, é produzido por uma mesma empresa. Os ingressos são sempre caríssimos, mesmo que as atrações sejam trazidas para cá graças à Lei de Incentivo à Cultura. Para resumir e deixar claro para todos, nós pagamos impostos, que são distribuídos por áreas do governo e uma parte vai inclusive para a cultura. Esse percentual serve, entre outras coisas, para financiar peças e shows, que chegam a Porto Alegre com valores mínimos de R$ 80,00 por pessoa e casa cheia.
O que intriga também é que os espaços da cultura em Porto Alegre foram diminuindo gradativamente. Um dos poucos lugares que abrigam manifestações gratuitas, portanto abertas ao público, é o recém inaugurado Espaço Vonpar, do Multipalco do Teatro São Pedro, que chega a ter dois shows na mesma noite, tamanha é a procura e a escassez de espaços. O auditório Araujo Viana, um símbolo da cidade, está fechado, abandonado e em ruínas há cinco anos. A solução encontrada pela Prefeitura foi a privatização. A empresa vencedora da licitação foi a única inscrita: a Opus Promoções, a mesma que monopoliza as peças e shows realizados na cidade. Detalhe é que isso já faz dois anos e até agora nenhum prego foi colocado ali. A Prefeitura e a imprensa fazem de conta que não estão vendo. Nada de cobranças, afinal vivemos tempos de pacificação política, sem aquela raiva e aquela veemência de tratar tudo como se fosse uma disputa Gre-Nal...
Mas eu quero dividir com o amigo leitor o seguinte raciocínio: qual o interesse da Opus em reformar o espaço público da cultura de Porto Alegre se estão lucrando milhares e milhares de reais em cada show ou peça trazida a Porto Alegre? Nenhum. O compromisso da Opus não é com a cultura ou com o interesse público, mas sim com o lucro. É muito mais interessante para essa empresa lotar o Teatro do Bourbon Country com ingressos na média de R$ 150,00 do que lotar o auditório público (será que ainda pode ser chamado assim?) no meio do Parque da Redenção.
Só que precisamos ir um pouquinho além. A Opus só se tornou a dona da cultura porto-alegrense porque o poder público assim permitiu. Gostaria de saber qual a explicação que a dupla Sergius Gonzaga e Ana Fagundes, gestores da cultura de Porto Alegre, têm a dar sobre isso. Mas gostaria que eles o fizessem enquanto Secretaria Municipal de Cultura, não enquanto Opus Promoções. Não sei se é possível fazer essa divisão, mas seria adequado separar o público do privado pelo menos no momento de explicar porque a cultura pública de Porto Alegre está morrendo.
Cultura não é um bem só dos ricos, é de todos!
Falei!
Bruno, fico feliz que tenhas abordado este tema no teu blog. Infelizmente tenho que concordar com cada linha... Passar pelo Araújo Viana e não sentir uma pontinha do dor no peito só acontece se vc não olhar para ele. Como artista sinto muito que o Auditório esteja assim e sinto por não ter espaço, por não ter incentivo e por ver vários colegas não serem valorizados. Cultura acessível à todos JÁ!
ResponderExcluirFaz quase 4 anos que saí de POA, e é esta sensação que tenho cada vez que volto à cidade. Abandono.
ResponderExcluirAcho (ok) que POA tem até mais shows de grande porte do que Brasília, mas a cultura pública e de graça realmente ta sumindo. Aqui na capital, vc sabe bem... sempre tem um palco montado pela cidade... já em POA, é inacreditável q o araujo vianna esteja ainda fechado.
revoltante mesmo!
beijocas
Infelizmente não conheço Porto Alegre, mas sei como é ruim sofrer com preços abusivos em shows, teatros ou qualquer outra manifestação cultural. Nossos governantes tem que investir mais na nossa cultura. Bom, muito bom o texto.
ResponderExcluirBruno parabéns pelo texto!
ResponderExcluirNós que amamos Porto Alegre e vivenciamos os bons tempos do Araujo Viana não podemos nos conformar com esse descaso.
Bruno parabéns pelo texto!
ResponderExcluirNós que amamos Porto Alegre e vivenciamos bons shows no Araujo Viana não podemos nos conformar com esse descaso!