segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O poder do quarto poder

Muito se fala que a mídia é o quarto poder. Na verdade seria o primeiro além dos três formalmente instituídos: Executivo, Legislativo e Judiciário. Mas o verdadeiro poder que a comunicação tem é a capacidade de mobilizar a opinião pública, inclusive sobre a atuação do Executivo, do Legislativo e do Judiciário.


Um exemplo bem contemporâneo é o escândalo político do Distrito Federal, com provas incontestáveis de corrupção. É verdade que as imagens são muito fortes e falam por si só, mas as denúncias só atingiram esse grau de notoriedade porque a imprensa tem sido emplacável na divulgação. É por isso que o Brasil todo sabe o que está acontecendo em Brasília e a mobilização popular na Capital da República não cessa. O clima é de choque e revolta.



No Rio Grande do Sul as coisas são bem diferentes. Não que aqui não existam escândalos. Existem muitos há bastante tempo. A diferença está no tratamento que a imprensa dá. Por exemplo, o jornal Zero Hora trouxe na semana passada com destaque a chamada: Cpers programa greve e tumultua fim do ano letivo. Pronto, o jornal traz a notícia e já a interpreta, colocando no colo do sindicato dos professores a conta pelos prejuízos da paralisação. A imparcialidade do bom jornalismo manda(ria) que se noticiasse o anúncio de greve e os motivos. Os argumentos deveriam ser do sindicato e do governo. A interpretação tem que ser feita pelo leitor, e não pelo veículo. Os dias seguintes foram de matérias com famílias lamentando e temendo a paralisação no fim do ano, numa tentativa nada sútil de colocar a opinião pública contra os professores.


Mas esse não é um episódio isolado. A crise na política gaúcha, os escândalos de corrupção, as gravações em que agentes públicos negociam a divisão de propina da forma mais descarada possível, a governadora do estado comprando uma casa com sobras de campanha e pior, a mobiliando com dinheiro público, nunca ganharam a mesma ênfase interpretativa. Muito pelo contrário, sempre foi feito um registro, mas já acompanhado de vários "senões." O surgimento de novas denúncias agora é tratado com descrédito e antecipação do debate eleitoral. E até a cobertura do escândalo de Brasília é tratada de forma a tentar convencer que "aquilo sim é que é escândalo", que "o deles é muito pior que o nosso", e assim por diante.


Não é! A diferença está no tratamento e na forma como o tal quarto poder age. Lá de forma implacável. Aqui, sempre com um pé atrás. Prova maior disso é que está prestes a ser empossado conselheiro do Tribunal de Contas do Estado um deputado estadual envolvido até os cabelos em corrupção e sem a menor condição de assumir esse cargo. Todo mundo sabe disso, mas a Assembleia aprovou, a governadora deu seu aval e o terno da posse está pronto. Tudo isso porque tanto os deputados estaduais quanto a governadora sabem que não haverá uma revolta popular e que na semana que vem ninguém mais fala nesse assunto. E se falar, vai ser como tem sido, como se fosse tudo mais do mesmo ou mais um capítulo da folclórica rivalidade Gre-Nal, responsabilizando esse espírito de forte posicionamentos por tudo, quando na verdade a culpa é deles, que subestimam a capacidade de discernimento das pessoas e difundem a alienação.


Esse poder anda em falta com a população.


Falei!

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