sábado, 9 de junho de 2012

Valeu Ana Paula!

Há um ano e meio, quando cheguei para trabalhar na Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, uma das primeiras pessoas que tenho lembrança de ter conhecido foi Ana Paula Crosara, Diretora de Políticas para as Pessoas com Deficiência. Na verdade não sei se foi uma das primeiras, mas com certeza uma das mais marcantes. Aquela figura de cabelos vermelhos, voz fina e sotaque hiper mineiro que se movimentava de um lado para o outro com muita habilidade na sua cadeira de rodas elétrica era uma pessoa que não tinha como passar despercebida em algum lugar. Até porque se ela não conseguisse acessar qualquer espaço, ela colocava a boca no trombone e todos conheciam Ana Paula. Algumas pessoas diziam que ela era muito chata. Podia ser para quem não a conhecia bem, ou não entendia bem qual a missão dela aqui.

Ana Paula era tetraplégica desde a infância, bem como sua irmã. O que poderia parecer o fim da vida para muitos, para ela era só o início. Ela foi advogada, professora, radialista, militante e gestora nacional de políticas para as pessoas com deficiência. Ao invés de se acomodar com a sua condição, ela resolveu lutar para que a nossa sociedade aprenda a conviver com todas as pessoas, independente da sua condição. Ela deu voz a milhões de brasileiros com alguma deficiência que vivem segregados da sociedade, privados de qualquer convívio social como se a sua deficiência os fizessem seres menos humanos. Não são mesmo!

A independência e a autonomia que a Ana Paula tanto exigia e lutava é o que conhecemos por direito. Um dia estávamos em um evento em Assunção, no Paraguai, que reuniria os ministros de Direitos Humanos dos países do Mercosul. Quando a reunião estava prestes a começar, a Ana Paula não pôde entrar na sala porque havia um degrau e ela não admitia em hipótese alguma ser carregada. Ela me chamou e perguntou se a nossa ministra se importaria com uma reivindicação dela. Quando respondi que não, ela colocou a boca no mundo e a reunião de ministros teve que acontecer em outra sala, plenamente acessível. Depois que aquilo aconteceu, ela olhou pra mim e disse: "hoje me senti poderosa!" E era mesmo. Foi assim em muitas ocasiões. Ela mudou reuniões de lugar, parou o trânsito de Brasília inúmeras vezes e fez até um avião modificar seu lugar de parada para que ela pudesse desembarcar com independência.

Cada ato desses da Ana Paula era um aprendizado para quem estava ao seu redor. Era o grito de milhões que dizia que não se tratava de um ser inferior, mas de alguém com os mesmos direitos de todas as demais pessoas. 

Eu aprendi muito com ela, tanto que comecei a perceber os entraves colocados na nossa sociedade para as pessoas com deficiência e não me conformar com isso. 

Foi um período de amizade, convivência e muito aprendizado. Na última quinta-feira, 7 de junho, o coração da Ana Paula parou de bater aos 38 anos em decorrência de algumas complicações. Foi muito triste a despedida, mas muito confortante saber que ela continua muito viva por meio das sementes que plantou na consciência de todos que tiveram o privilégio da sua convivência e aprenderam com ela.

Muito obrigado Ana Paula Crosara pelos ensinamentos e por ter me ajudado a ser mais humano! Até algum dia...

Falei!

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Um domingo perfeito


Amo futebol! Gosto de tudo, do esporte, da magia, do clima, da rivalidade, das opiniões, da paixão. Mas gosto mesmo é de torcer. Para mim, funciona como um válvula de escape, aquele raro momento que eu não preciso pensar em mais nada. Fico entregue a um sentimento que me faz esquecer, por algumas horas, que existe mundo além daquilo. E isso me permite gritar, dar palpite, brigar, jogar junto, xingar, sorrir, chorar, ficar triste ou ficar feliz, sempre com muita intensidade.

Mas torcer em qualquer lugar não é que nem torcer no estádio. Lá é a vibração maior, é onde bate o coração de todos os torcedores, os que estão e os que não estão lá. E ir no Beira-Rio toda hora é uma das coisas que me faz ter muitas saudades de morar em Porto Alegre. O Beira-Rio é o lugar onde descarrego minhas emoções. Saio sempre de lá mais leve.

Pois bem, a vida nova de 2011 me fez passar o ano todo sem ir nenhuma vez ao Beira-Rio. Só consegui ir a um jogo. O último do ano. Na minha opinião, é claro, o mais emocionante. Foi bom reencontrar o vermelho, os milhares de braços juntos apontando pro campo e cantando, os gritos, as músicas, as demonstrações mais diferentes de paixão, o grito mais esperado, a festa. Um domingo em que tudo foi perfeito. Nos classificamos para uma competição internacional importante mais uma vez, vencemos o nosso maior rival, o nosso mais guerreiro comandou o espetáculo e ainda marcou o decisivo gol. 

Minha voz ainda não voltou, mas ser movido pela paixão de vez em quando é tão bom. Daí nem precisa falar. A alegria é uma baita forma de comunicação também.

Valeu meu Inter! Tava louco de saudades!

Falei!

Foto: Alexandre Lops

terça-feira, 1 de novembro de 2011

#ForçaLULA



A história republicana do Brasil se resume basicamente entre presidentes civis oriundos das classes burguesas e militares que governaram o país após golpear a democracia e aterroziar as liberdades. Mesmo no período pós redemocratização, os presidentes eleitos foram um playboy nordestino e o príncipe da intelectualidade. Dadas as devidas proporções, dois fracassos políticos no Brasil. E eis que toda essa história muda quando um homem do povo inverte a lógica e vence um preconceito enraizado na nossa cultura. Acontece que esse preconceito era justamente de uma pequena parcela da sociedade - que governava o país, inclusive - contra a grande maioria da população, que acabava reproduzindo isso, de uma certa forma.

Só que um dia a ficha caí e aquele pessimismo conformado de terceiro mundo, de quem tem que andar a reboque de americano - falando inglês, lógico - se transforma na esperança de que algo pode mudar. Os que achavam que nunca perderiam o controle se desesperam, tentam mais uma vez apelar para os argumentos mais sórdidos possíveis, mas o povo vai mostrando que não quer mais ser manipulado e que acredita que um dos seus pode fazer a diferença. Golaço! Esse jogo virou e é melhor não comprar briga com a torcida. 

Todos esperam para ver o que vai acontecer. Na primeira oportunidade, a reação foi imediata: tentativa de golpe. Já que não estamos conseguindo ganhar no jogo, vamos para o tapetão. O time sofreu o impacto, fez as substituições necessárias e a torcida soube compreender, afinal de contas era ela quem ganhava. Muitos daqueles que antes eram desconfiados e até contra, começaram a ver que quando todo mundo está melhorando de vida,  sua vida também melhora. A torcida só aumenta, porque registra vitórias seguidas de mais vitórias.

Mas tem uns poucos e resistentes adversários que não se conformam com isso. E não é só por estar longe do poder, mas por não admitir que o filho do porteiro pode ser colega de faculdade do filho do doutor ou porque acha um absurdo a manicure viajar no mesmo avião que a madame dos cabelos bem escovados. Alguma coisa está invertida. E no mesmo tempo, tabus históricos vão sendo derrubados sucessivamente. Para piorar, os pobres estão melhorando de vida e reconhecendo seus direitos. Onde vão ficar os privilégios dessa galera que não se conforma com o sucesso de todos? Como eles vão se destacar? Quem eles vão explorar?

Já tentaram interromper esse processo em eleições, no tapetão, em praça pública, nos mais variados meios de comunicação - de forma absolutamente irresponsável, é bom registrar - e onde a criatividade infantil puder chegar, inclusive com personagens sendo transportados de helicóptero após um grave ateque com bolinhas de papel. Quanto maior o desespero, menor a noção do ridículo. Fracassaram em todas as tentativas e continuam fracassando. Agora chegou um novo elemento que atiça a ira dos desesperados: um câncer. Sim, os urubus estão se babando. Poucos admitem, mas muitos confabulam como será o amanhã. E, é lógico, os que se manifestam é pela via do preconceito - sempre ele. 

Acontece que o adversário tem uma força que eles não conseguem entender - muito menos enfrentar, capaz de vencer o preconceito, o pessimismo, o mau agouro e, com certeza, um câncer. Além de ter na bagagem toda uma história de vida, ele conta com o apoio e as boas energias de milhões de pessoas de várias partes do mundo que aprenderam a admirá-lo e reconhecem a sua importância. São milhões de bons pensamentos e demonstrações de fé -  seja qual a crença do cidadão - mas no mesmo ritmo e na mesma batida. É isso que fortalece a corrente do bem e que dá a certeza que ele vai vencer mais essa.

Como sempre, desde sempre e com imenso orgulho disso, estamos juntos nessa meu líder Luiz Inácio Lula da Silva! #ForçaLula

Falei! 


segunda-feira, 28 de março de 2011

Nêga Lu 4.0


Ter amigos é algo muito bom. Mas melhor ainda é ter alguns poucos amigos que tu possas considerar um irmão. São relações exatamente como a de irmãos, com altos e baixos, mas com um amor imenso e a certeza de que é pra sempre.  Com a homenageada desse post tenho a honra de ter uma relação assim, de irmão. E como isso é legal.

A Lu não é minha amiga de infância. Nos conhecemos já na estrada. Mas bateu algo de cara, quando senti sinceridade naquele sorriso cheio de dentes. Bateu e nunca mais separou. E o mais engraçado é que eu tenho certeza que um conhece o outro desde a infância, como poucos. Nos conhecemos do avesso.

Melhor é ter histórias de convivência pra contar. E que histórias... Com a Lu tudo é muito intenso, portanto todos os momentos são muito marcantes. Da tentativa frustrada de  tomar chimarrão na praia em Capão (culpa do Nordestão gaúcho) à perfuração de um pulmão por uma costela quebrada (na real eu acho que eram gases); da ceva gelada no Posto 9 com 40°C ao mate quente no Brique em uma manhã de julho com 5°C; dos findes em Macondo ao Dia de Tiradentes em Capão; dos microfones da Rádio Rural à corrida entre os carros na Lagoa (Rodrigo de Freitas, lógico) para não perder o vôo; de sair do Beira-Rio comemorando conquistas históricas (tivemos muitas nos últimos anos, muuuuiiiiiitas) a sair triste, mas puteando alguém porque sempre tem um culpado; de ganhar eleições históricas a perder algumas que queríamos muito; do samba na sagrada Lapa ao Acampamento Farroupilha; do bloco da Ivete no Carnaval de Salvador ao Lual na Pinheira ouvindo o tal Mineiro (tô me matando de rir nesse momento); de ver a lua na caixa d'água do Delfim (espero que a Alice não seja minha leitora) a passar a noite em uma maca de hospital sem estar nem sequer doente (essa é culpa da Anita); da idolatria ao Fernandão até a discordância mortal (sempre mortal) sobre o Tite. É muita história, mas sabe o melhor? Tudo isso juntos e se divertirndo muito. Todo o momento é inesquecível! São só boas lembranças.

A Lu é 200% coração, por isso acho que não existe quem não goste dela, só quem não a conhece bem. Daí ter tantos amigos, em tudo que é canto do mundo, por ser do bem. E se não bastasse tudo, ela ainda traz na bagagem uma família simplesmente maravilhosa. É muita coisa coisa boa numa pessoa só.

E eis que a Nêga Lu chega aos 40. Toda faceira, como sempre! Eu tava tentando me lembrar quantos anos ela tinha quando nos conhecemos, mas acabei de perceber que ela sempre teve a mesma idade e sempre terá, porque a pessoa feliz não envelhece. Isso me faz ter a certeza que essa lista de histórias inesquecíveis só vai aumentar. 

Que privilégio fazer parte e compartilhar tanta vida com a minha amiga Luciana Vilaverde Fagundes, aniversariante de hoje. Alegretense, colorada, ariana, gênio do Bagre, coração da Marlene, jornalista, de esquerda, festeira e agora, quarentona (achou que eu ía chamar de querentinha, né?). Tudo de melhor pra ti, negrinha! Te amo!

Parabéns!

Falei!

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Mito é mito


Hoje é um dia diferente, estranho, no mínimo. Quando se aprende a cultivar ídolos, nos preparamos para vangloriar sempre esses seres iluminados que por algum motivo viram espécies de heróis em nossas vidas. Mas dificilmente aprendemos a nos despedir desses ídolos. Isso é algo estranho, fora do script.


Me lembro da manhã de um domingo de 1994, quando uma tragédia me separou - e o Brasil todo - de um ídolo que através da Fórmula 1 conquistou lugar cativo no coração de milhões de pessoas. O nome dele era Ayrton Senna da Silva. Também me lembro da manhã de um sábado quando recebi uma mensagem no celular que dizia: "Fernandão saiu do Inter." Foi outra despedida triste, que eu não esperava e nunca queria que tivesse sido verdade.


Hoje foi diferente. Também é um dia marcado pela despedida de um ídolo da minha geração. Mas é uma despedida diferente, que parecia já estar sendo preparada há algum tempo, mas que nem por isso merece passar sem um registro.


Eu nunca gostei do Pelé, muito mais por conta da sua personalidade e tentativa de intelectualidade do que qualquer outra coisa. Um dia ouvi de uma pessoa mais velha: "tu não gostas do Pelé porque não viu ele jogar." É verdade, tem toda a razão. Rever lances de partidas antigas mostra que o cara realmente fazia e acontecia, mas sem a emoção de estar torcendo nunca é a mesma coisa.


Com o Ronaldo é diferente. Eu vi ele jogar e tenho a absoluta certeza de afirmar que é o melhor dos que já vi. Essa é a minha geração. Lembro de uma Copa do Mundo que o Brasil ganhou e que o Ronaldo - na época Ronaldinho - foi a estrela aos 17 anos mesmo sem nunca ter saído do banco. Depois disso vi outra Copa em que a estrela dele brilhou e fez o Brasil chegar à final e fracassar por algum problema que o envolveu e até hoje segue sem explicação. Mas teve outra Copa, mais uma oportunidade. E nessa, ele brilhou mais que tudo, mais que todos. Ele teve todos os méritos e glórias daquele título mundial, o quinto da nossa coleção.


Se não bastasse tudo isso, tive a oportunide de conhecer o Ronaldo. Trata-se de um cara simples, engraçado e extremamente bom caráter. Sei que muitos mais novos talvez tenham alguns senões com ele, como tenho com o Pelé. Só posso repetir o discurso dos mais velhos que eu.


Nesse caso, porém, repito com muita convicção. Que orgulho e honra de ser dessa geração que viu o Ronaldo jogar. Ele é o melhor da minha era, sem sombra de dúvidas. As melhores arrancadas, as mais surpreendentes jogadas, lances de deixar macaco velho de queixo caído. O Ronaldo foi um gênio, um mestre, o melhor jogador que já vi em campo sem perder a humildade e o jeito de muleque.


Ele foi tudo e mais um pouco e mereceu tudo isso. Os deslizes da vida e os quilos a mais são muito pouco diante do brilho dos seus dribles e da sua força de vontade para superar os obstáculos.


Fico saudoso com a despedida, mas ao mesmo tempo cheio de emoção de ser dessa geração que teve a honra de ver e viver esse verdadeiro Fenômeno chamado Ronaldo.


Falei!